Quando um misterioso GTA para DS foi anunciado durante a conferência da Nintendo na E3, a seqüência de emoções experimentadas pela maioria das pessoas deve, salvo variações menores, ter ido rapidamente da surpresa, ao regozijo para, por fim, acabar estacionando na preocupação.
Quer dizer, Chinatown Wars, não obstante o fato de contar com a premiada equipe de desenvolvimento da Rockstar Leeds (que lançou as versões para PSP), ainda estaria limitada às possibilidades técnicas do portátil da Nintendo, sem falar no estilo quase satírico que marca boa parte das adaptações de jogos maiores.
Bem, é claro que outros poucos devem ter considerado questionável a chegada da controversa franquia a um portátil com um grande público infantil, mas até aí, nada a que a série ainda não estivesse acostumada — a Rockstar provavelmente ficaria preocupada se um lançamento da série não causasse alguma comoção entre entidades puristas e/ou políticos pretensiosos e/ou pessoas sem mais o que fazer; isso significaria que algo não estaria bem com a popularidade da franquia, convenhamos.
Enfim, as elucubrações eram muitas: será mais um divertido conjunto de minigames? Vamos agora controlar com a stylus um mafioso que deve disparar conforme inimigos aleatórios dispontam em uma tela estática? Ou, ainda, quem sabe, a proposta traria um GTA com um inconveniente freio moral, algo que cancelaria a assinatura da série a fim de adequar o teor à inexorável política da Nintendo?
Bem, felizmente, nenhum desses medos deve transcender o campo da especulação. GTA Chinatown Wars deve ser um jogo completo, moralmente questionável, com uma ampla liberdade de decisões e ações em um ambiente que traz elementos como vingança, roubo de carros (como também barcos e aviões), assassinatos e, por fim, tudo o que faz GTA ser GTA.
GTA no DS
Sim, Chinatown Wars deve trazer uma experiência bastante verossímil em relação ao que GTA representa no imaginário popular hoje — provavelmente o renascimento digital e de bom gosto de Scarface. Entretanto, você não vai encontrar o mesmo jogo dos consoles maiores em uma cópia fuleira. Longe disso.
CW traz um estilo único, que aproveita bem os elementos clássicos da série, mas também reinventa muita coisa, desde a estética até o estilo de jogo e, por fim, os inevitáveis minigames. Além disso, os desenvolvedores tem dado mostras de que sabem utilizar as potencialidades do portátil sem cair no ridículo de ter que utilizar a stylus para tudo (imagine como seria dirigir na tela sensível ao toque...) ou mesmo ter que assoprar no microfone por algum motivo absurdo.
Longe disso. As duas telas do console serão aproveitadas de maneira absolutamente intuitiva, separando a ação do mapa e da escolha de armas, e a stylus apresenta utilizações bastante originais. Juntando-se a isso, CW deve trazer ainda uma história nova epicamente densa, tal qual se espera de um jogo da franquia.
Vingança em Chinatown
Embora Chinatown Wars traga uma ampla Liberty City para que se possa desenvolver os negócios escusos do protagonista, é uma fictícia Chinatown que encerra o foco da historio. Dessa vez, você vai assumir o papel de Huang Lee, um membro de uma gangue conhecida como Triads. Após a morte de seu pai, Huang acaba encarregado de entregar uma espada, Yu Jian, que é também um tesouro de família, ao seu tio Wu.
Como já se poderia prever, durante a primeira missão do jogo (que envolve, naturalmente, levar a espada até o tio do protagonista), a relíquia é roubada, o que transforma toda a cidade em um gigantesco palco onde Huang deve arquitetar a sua vingança e também um plano para recuperar a valiosa espada.
Um universo na palma da mão
A versão pocket de Liberty City realmente não deve ficar devendo nada para as suas versões maiores. As mesmas possibilidades dos jogos grandes estarão disponíveis, com um imenso ambiente para se vagar a esmo, roubar carros, pessoas e conduzir os negócios; tudo isso correndo paralelamente ao andamento da trama central, que envolve dissecar a organização criminosa Triad à procura de pistas sobre a espada desaparecida.
Enfim, toda a profundidade e profusão de possibilidades que se espera de um GTA. É claro que alguns padrões são inevitáveis no que tange as missões: você vai entregar pacotes, servir de chofer para alguém particularmente importante e, principalmente, matar pessoas. Montes delas, conforme sempre aconteceu com os anti-heróis da série. E, bem, desnecessário dizer, você vai poder roubar dezenas e mais dezenas de carros — não sem passar por um divertido minigame, é claro.
Além das missões principais, as famosas “side quests”, que são aquelas missões paralelas que servem para juntar algum dinheiro, aprender a dirigir melhor ou simplesmente para dar uma desculpa para sair e atropelar pedestres pela calçada. Uma ambulância, um carro da polícia ou ainda do corpo de bombeiros e um taxi: cada um deles com aquelas missõezinhas descompromissadas às quais todos já estão acostumados e até mesmo esperam encontrar.
Isso sem falar no tráfico de drogas, a mais nova pedra no sapato dos ativistas anti-GTA. Exatamente, você agora será um autêntico traficante, comprando e vendendo lotes de drogas leves e pesadas (LSD, heroína, maconha, etc.), levando sempre em conta quais locais no mapa são melhores para a compra e venda dos seus degenerados ativos. A fim de conferir mais segurança ao negócio, é possível ainda espatifar várias câmeras de segurança espalhadas pela cidade em um objetivo muito semelhante ao de juntar “hidden packages”.
Todos esses elementos e objetivos se desenrolam ainda em um ambiente amplo e bem polido. A Liberty City de Chinatow Wars, além de trazer muitos metros quadrados para deleite do crime organizado, ainda apresenta uma estética que, seguindo o que dizem os desenvolvedores, é perfeita para o DS.
Além de incorporar aos visuais o já bastante popular efeito “cel-shaded” — que deve se adequar melhor às restrições técnicas do DS —, os visuais de CW mesclam os elementos 3D dos títulos mais recentes à visão distante dos primeiros jogos da série.
Em suma, para utilizar um termo técnico, você terá uma perspectiva isométrica (tal qual se via em Age of Empires II ou em Final Fantasy Tatics), embora esta seja toda construída em um ricos ambientes 3D — há quem diga, inclusive, que podem mesmo ser os melhores já produzidos para o console.
Uma cidade viva
Bem, criado todo o molde em barro, resta ainda o sopro de vida. Um sopro que vem na forma de uma (novamente segundo promessas) eficiente IA, o que garantir uma cidade viva e pulsante, incrustada de pessoas fazendo suas atividades, carros rodando e, é claro, policiais patrulhando.
A propósito, vale colocar aqui que as perseguições policiais sofreram uma sensível alteração a fim de se adequarem à jogabilidade mais "arcade" proposta pela Rockstar Leeds. Para se desvencilhar de um perseguidor você ainda poderá simplesmente despistá-lo, é claro. Entretanto, uma árvore, um caminhão ou mesmo um rio no lugar certo também podem fazer o serviço, já que destruir os perseguidores não vai somar mais estrelas, mas sim tirá-los definitivamente do seu pé.
No mais, você vai encontrar os elementos-padrão que sempre trouxeram vida as cidades de GTA: alternância entre dias e noites, condições de tempo variáveis e sujeitos mal encarados a procura de alguém que execute os seus mandos. De fato, um rápido vislumbre da nova/pequena Liberty City traz aquela mesma impressão de organismo vivo que os jogos anteriores souberam passar com maestria.
É claro, os minigames
Como já era de se esperar, CW certamente vai se valer das potencialidades do DS; isso além de razoável é também bastante esperado pelo público. Bem, a boa notícia é que entre todas as utilizações mencionadas até o momentos para a tela sensível ao toque, nenhuma — falando francamente — parece forçada, inverossímil ou simplesmente fora de lugar.
Você vai roubar carros, fabricar bombas e até mesmo desenhar tatuagens para o seu personagem utilizando a stylus. Isso sem falar em marcar cartões de loteria. Além disso, todas as informações relevantes do jogo serão organizadas na tela de baixo do DS através de um prático PDA.
O aparelho servirá para uma infinidade de coisas. Entre elas: utilizar a navegação por GPS (que coloca no mapa uma linha a ser seguida até o destino escolhido; nada novo aqui, é claro, mas não deixa de ser uma mão na roda), marcar contatos e locais favoritos na cidade, checar e-mails (muitos dos contados negociarão com você dessa forma), monitorar o seu império de distribuição de drogas e, pasmem, até mesmo encomendar armas da loja de munição, que serão convenientemente entregues na sua porta.
No mais, é aguardar até que mais migalhas caiam da mesa farta da Rockstar. Mas a impressão que fica é de um jogo que, se eventualmente não for um “blockbuster”, certamente vai evocar decentemente o clima pesado e rico da série. Ah, sim, suporte online? Bem, além do já divulgado ranking online, fica a resposta dada ao site 1up.com pelo desenvolvedor chefe da Rockstar Leeds: “nós estamos finalizando todos os nossos planos”. O negócio é esperar.
Fonte:Baixaki Jogos